
Em 2011, a Estónia lançou um ambicioso programa de mobilidade elétrica a nível nacional com vista a promover a utilização de veículos elétricos (VE) no país. O programa envolvia a disponibilização de subvenções aos cidadãos para comprarem VE, a realização de campanhas de sensibilização, um projeto de partilha de automóveis elétricos e a atribuição de VE aos funcionários públicos.
Contudo, o que era necessário para ligar estes projetos e tornar o programa um êxito era uma infraestrutura de carregamento adequada. Assim, em março de 2011, a Estónia criou a ELMO, uma inovadora rede de carregadores rápidos espalhada por todo o país - a primeira do género no mundo.
A Estónia é um pequeno país do nordeste da Europa com uma população de 1,3 milhões de habitantes e uma área de 45 227 km2. Com uma taxa de urbanização de 70 %, mais de um terço dos habitantes vivem em zonas urbanas. Em termos percentuais, 53 % dos estónios utilizam o automóvel para se deslocarem, 23 % os transportes públicos e 23 % andam a pé ou de bicicleta.
Como parte do seu plano nacional de desenvolvimento dos transportes, a Estónia está empenhada em aumentar a percentagem de energias renováveis no setor dos transportes para 10 % do consumo global, o que representa um aumento de 9,8 % quando comparado com 2011. A mobilidade elétrica tem sido considerada como uma das medidas possíveis para alcançar este objetivo. O programa estónio de mobilidade elétrica foi lançado com vista a aumentar a percentagem de energias renováveis nos transportes e reduzir as emissões de CO2 provenientes do setor privado dos transportes.
O programa ELMO foi considerado um instrumento crucial de longo prazo para incentivar a adoção generalizada de VE no país. Financiado por um acordo de comércio no domínio das emissões de CO2 entre o governo da Estónia e a Mitsubishi Corporation do Japão ao abrigo do Protocolo de Quioto, o orçamento total para o desenvolvimento da infraestrutura em todo o país e para a sua manutenção num prazo de 5 anos totalizou aproximadamente 12 milhões de euros.
De modo a criar esta infraestrutura de carregamento em todo o país, o governo solicitou à agência de financiamento e gestão de programas KredEx que encontrasse uma solução técnica chave-na-mão com um acordo operacional de 5 anos junto de prestadores de serviços privados. Além disso, coube à KredEx encontrar e garantir os locais para colocar os carregadores e assegurar que as empresas ligadas à rede de eletricidade construíssem ligações elétricas suficientes até esses locais. Todas as subtarefas inerentes ao programa foram realizadas por empresas privadas.
A rede ELMO foi lançada oficialmente a meados do verão de 2011 e incluiu três processos paralelos principais com vista a desenvolver os locais escolhidos: ligações à rede, soluções chave-na-mão para os carregadores e um sistema de TI e arranque do serviço. O concurso para a solução chave-na-mão foi ganho por um consórcio liderado pelo grupo multinacional de engenharia e líder em tecnologias para a eletricidade ABB, que incluía como parceiro a NOW! Innovations, uma empresa da área do software, e o operador de serviço G4S.
A rede ELMO começou a operar oficialmente em fevereiro de 2015, sendo composta por 165 CHAdeMO[1]- carregadores rápidos normalizados. Foi a primeira do género em todo o mundo. Os pontos de carregamento encontravam-se espalhados por todas as estradas com trânsito intenso, em cidades com mais de 5 000 habitantes, perto de locais de paragem frequente, como estações de serviço, cafés, lojas e bancos, e ainda em portos que acolhessem viajantes internacionais e locais. A distância entre cada estação de carregamento era de 40 a 60 km. Atualmente, existem 100 carregadores rápidos em cidades: 44 em cidades grandes, 27 em Tallinn, 10 em Tartu, 5 em Pärnu e 2 em Narva. Sessenta e cinco encontram-se localizados perto de estradas. Para pagarem a utilização das instalações de carregamento, os condutores de VE podem optar pela aplicação ELMO nos seus dispositivos móveis ou autorizar pagamentos num cartão de identificação por radiofrequência (RFID). Além disso, encontra-se disponível uma linha telefónica de apoio para quem subscreve o serviço ELMO.
A popularidade da rede de carregamentos rápidos aumentou rapidamente nos últimos dois anos: em fevereiro de 2013 foi utilizada 1 000 vezes, em janeiro de 2015 esse número ascendeu a 11 000 carregamentos por mês. Atualmente, o sistema está a ser utilizado por 1 100 condutores regulares, com um tempo médio de carregamento de 20 minutos cada.
[1] CHAdeMO é a abreviatura de CHArge de Move, sendo também a designação comercial de um método de carregamento rápido para veículos com bateria elétrica que debita até 62,5 kW de corrente contínua de alta tensão através de um conetor elétrico especial. Uma associação com o mesmo nome propô-lo como norma mundial para o setor.
«Criar uma infraestrutura em todo o país é um programa muito complexo e necessita de ser alinhado com diferentes subprojetos, tais como a aquisição de locais e o desenvolvimento de soluções técnicas e de serviços. Cada um deles constituiu um desafio», afirma Jarmo Tuisk, diretor para a mobilidade elétrica da NOW! Innovations.
Como parte do projeto ELMO, foi preparado um documento de análise e orientação para o programa com vista a definir o contexto, a visão e a estratégia globais do projeto. Jarmo Tuisk afirma que a escolha dos parceiros com as competências e os conhecimentos certos, e dispostos a cooperar, foi a chave do sucesso. «Claro que» acrescenta, «uma gestão de projeto excelente também é importante». Tal como é, ao que parece, um bocadinho de «dar e receber»: as decisões acerca do local onde colocar os carregadores traduziram-se num compromisso entre o analítico (utilização das estradas) e se os locais cumpriam os critérios de elegibilidade e estavam disponíveis.
Como a rede estónia foi desenvolvida num período temporal muito curto, em dois anos, houve necessidade de seguir alguns atalhos no processo de implementação. Por exemplo, a escolha de um modelo de operador/prestadores de serviços único pode ser problemática no futuro, uma vez que pode revelar-se difícil para outros investidores competirem com ofertas de serviços tão ubíquas. No futuro, o governo terá de tomar uma decisão sobre se abre ou não a rede a outros prestadores de serviços e/ou investidores, e de quer forma.
Jarmo Tuisk acrescenta: «O aumento da popularidade da rede pública de carregamentos rápidos demonstra que existe uma necessidade clara de uma infraestrutura acessível e de fácil utilização para VE. Revela também que o carregamento rápido não se destina apenas a carregamentos nas autoestradas, serve igualmente para solucionar problemas de carregamento dentro das zonas urbanas, já que a maior parte dos carregadores se encontra dentro das cidades.»